quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Como posso me tornar um doador de órgãos?
O passo principal para você se tornar um doador é conversar com a sua família e deixar bem claro o seu desejo. Não é necessário deixar nada por escrito. Porém, os familiares devem se comprometer a autorizar a doação por escrito após a morte. A doação de órgãos é um ato pelo qual você manifesta a vontade de que, a partir do momento da constatação da morte encefálica, uma ou mais partes do seu corpo (órgãos ou tecidos), em condições de serem aproveitadas para transplante, possam ajudar outras pessoas.
O que é morte encefálica?
É a morte do cérebro, incluindo tronco cerebral que desempenha funções vitais como o controle da respiração. Quando isso ocorre, a parada cardíaca é inevitável. Embora ainda haja batimentos cardíacos, a pessoa com morte cerebral não pode respirar sem os aparelhos e o coração não baterá por mais de algumas poucas horas. O termo Morte Encefálica se aplica a condição final, irreversível, definitiva de cessação das atividades do Tronco Cerebral e do Cérebro. Por isso, a morte encefálica já caracteriza a morte do indivíduo. Morte encefálica significa a morte da pessoa. É uma lesão irrecuperável e irreversível do cérebro após traumatismo craniano grave, tumor intracraniano ou derrame cerebral. É a interrupção definitiva de todas as atividades cerebrais. NÃO DEVEMOS CONFUNDIR MORTE ENCEFÁLICA COM COMA.. O estado de coma é um processo reversível, o paciente em coma está vivo. A morte encefálica é irreversível, o paciente em morte encefálica não está mais vivo. Para confirmação do diagnóstico da morte encefálica são necessárias três avaliações, realizadas por médicos diferentes. As duas avaliações clínicas são realizadas por dois médicos capacitados. Estes médicos não devem fazer parte de uma equipe transplantadora. O exame complementar, é realizado por um terceiro médico, entre a 1.ª e 2.ª prova clínica ou como 3.ª prova. Crianças entre 7 dias e 2 anos, o exame indicado é o EEG (Eletroencefalograma), que deve ser, no mínimo, realizado duas vezes. São vários os diagnósticos para a verificação de morte encefálica.
Um deles é o diagnóstico gráfico de Morte Encefálica através de uma angiografia.

Todo o processo pode ser acompanhado por um médico de confiança da família do doador.
É fundamental que os órgãos sejam aproveitados para a doação enquanto ainda há circulação sangüínea irrigando-os, ou seja, antes que o coração deixe de bater e os aparelhos não possam mais manter a respiração do paciente. Mas se o coração parar, só poderão ser doados alguns tecidos como as córneas, pele e ossos.
Quais os requisitos para um cadáver ser considerado doador de órgãos?
  • Ter identificação e registro hospitalar;
  • Ter a causa do coma estabelecida e conhecida;
  • Não apresentar hipotermia (temperatura do corpo inferior a 35ºC), hipotensão arterial ou estar sob efeitos de drogas depressoras do Sistema Nervoso Central;
  • Passar por dois exames neurológicos que avaliem o estado do tronco cerebral. Esses exames devem ser realizados por dois médicos não participantes das equipes de captação e de transplante;
  • Submeter-se a exame complementar que demonstre morte encefálica, caracterizada pela ausência de fluxo sangüíneo em quantidade necessária no cérebro, além de inatividade elétrica e metabólica cerebral;
  • Estar comprovada a morte encefálica. Situação bem diferente do coma, quando as células do cérebro estão vivas, respirando e se alimentando, mesmo que com dificuldade ou um pouco debilitadas.
Observação: Após diagnosticada a morte encefálica, a equipe capacitada da CIHDOTT (Comissões Intra-hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante) do Hospital onde encontra-se o potencial doador ou a equipe da OPO (Organização de Procura de Órgãos) deve informar a família de forma clara e objetiva que a pessoa está morta e que, nesta situação, os órgãos podem ser doados para transplante. Veja mais detalhes na Portaria n°1262 de 16/06/2006
Quem recebe os órgãos e/ou tecidos doados?
Quando é reconhecido um doador efetivo, a central de transplantes é comunicada, pois apenas ela tem acesso aos cadastros técnicos com informações de quem está na fila esperando um órgão. Além da ordem da lista, a escolha do receptor será definida pelos exames de compatibilidade entre o doador e o receptor. Por isso, nem sempre o primeiro da fila é o próximo a receber o órgão.
Como garantir que meus órgãos não serão vendidos depois da minha morte?
As centrais de transplantes das secretarias estaduais de saúde controlam todo o processo, desde a retirada dos órgãos até a indicação do receptor. Assim, as centrais de transplantes controlam o destino de todos os órgãos doados e retirados.
Disseram-me que o corpo do doador depois da retirada dos órgãos fica todo deformado. Isso é verdade?
É mentira. A diferença não dá para perceber. Aparentemente o corpo fica igualzinho. Aliás, a Lei é clara quanto a isso: os hospitais autorizados a retirar os órgãos têm que recuperar a mesma aparência que o doador tinha antes da retirada. Para quem doa não faz diferença, mas para quem recebe sim!
Posso doar meus órgãos em vida?
Sim. Também existe a doação em vida. O médico deverá avaliar a história clínica do doador e as doenças anteriores. A compatibilidade sangüínea é primordial em todos os casos. Há também testes especiais para selecionar o doador que apresenta maior chance de sucesso. Os doadores vivos podem doar um dos rins, uma parte do fígado (até 70% do seu tamanho; o figado, após a doação, se regenera em 45 dias), parte de um pulmão, a medula óssea (veja em nossa página) e o sangue.
Este tipo de doação só pode ser feita para alguém de sua família (até 4º grau) ou no caso de um amigo, será necessário uma autorização judicial.
Este tipo de doação entre vivos, só acontece se não representar nenhum problema de saúde para a pessoa que doa.
Para doar órgãos em vida é necessário:
  • Ser um cidadão juridicamente capaz;
  • Estar em condições de doar o órgão ou tecido sem comprometer a saúde e aptidões vitais;
  • Apresentar condições adequadas de saúde, avaliadas por um médico que afaste a possibilidade de existir doenças que comprometam a saúde durante e após a doação;
  • Querer doar um órgão ou tecido que seja duplo, como o rim, e não impeça o organismo do doador continuar funcionando;
  • Ter um receptor com indicação terapêutica indispensável de transplante;
  • Ser parente de até quarto grau ou cônjuge. No caso de não parentes, a doação só poderá ser feita com autorização judicial;
Órgãos e tecidos que podem ser doados em vida:
  • Rim;
  • Medula óssea (se compatível, feita por meio de aspiração óssea ou coleta de sangue);
  • Fígado (apenas parte dele, em torno de 70%);
  • Pulmão (apenas parte dele, em situações excepcionais);
  • Sangue.
Quem não pode doar?
  • Pacientes portadores de insuficiência orgânica que comprometa o funcionamento dos órgãos e tecidos doados, como insuficiência renal, hepática, cardíaca, pulmonar, pancreática e medular;
  • Portadores de doenças contagiosas transmissíveis por transplante, como soropositivos para HIV, doença de Chagas, hepatite B e C, além de todas as demais contra-indicações utilizadas para a doação de sangue e hemoderivados;
  • Pacientes com infecção generalizada ou insuficiência de múltiplos órgãos e sistemas;
  • Pessoas com tumores malignos com exceção daqueles restritos ao sistema nervoso central, carcinoma basocelular e câncer de útero e doenças degenerativas crônicas.
O que diz a Lei brasileira de transplante atualmente?
Lei que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante é a Lei 9.434, de 04 de fevereiro de 1997, posteriormente alterada pela Lei nº. 10.211, de 23 de março de 2001, que substituiu a doação presumida pelo consentimento informado do desejo de doar. Segundo a nova Lei, as manifestações de vontade à doação de tecidos, órgãos e partes do corpo humano, após a morte, que constavam na Carteira de Identidade Civil e na Carteira Nacional de Habilitação, perderam sua validade a partir do dia 22 de dezembro de 2000. Isto significa que, hoje, a retirada de órgãos/tecidos de pessoas falecidas para a realização de transplante depende da autorização da famíliar.
Sendo assim, é muito importante que uma pessoa, que deseja após a sua morte, ser uma doadora de órgãos e tecidos comunique à sua família sobre o seu desejo, para que a mesma autorize a doação no momento oportuno.
Como pode ser identificado um doador de órgãos?
A Centrais Estaduais também têm um papel importante no processo de identificação/doação de órgãos. As atribuições das CNCDOs são, em linhas gerais: a inscrição e classificação de potenciais receptores; o recebimento de notificações de morte encefálica, o encaminhamento e providências quanto ao transporte dos órgãos e tecidos, notificação à Central Nacional dos órgãos não aproveitados no estado para o redirecionamento dos mesmos para outros estados, dentre outras. Cabe ao coordenador estadual determinar o encaminhamento e providenciar o transporte do receptor ideal, respeitando os critérios de classificação, exclusão e urgência de cada tipo de órgão que determinam a posição na lista de espera. O que é realizado com o auxílio de um sistema informatizado para o ranking dos receptores mais compatíveis.
A identificação de potenciais doadores é feita, principalmente, nos hospitais onde os mesmos estão internados, através das Comissões Intra-hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante, nas UTIs e Emergências em pacientes com o diagnóstico de Morte Encefálica. As funções da coordenação intra-hospitalar baseiam-se em organizar, no âmbito do hospital, o processo de captação de órgãos, articular-se com as equipes médicas do hospital, especialmente as das Unidades de Tratamento Intensivo e dos Serviços de Urgência e Emergência, no sentido de identificar os potenciais doadores e estimular seu adequado suporte para fins de doação, e articular-se com a respectiva Central de Notificação, Captação e Distribuição de órgãos, sob cuja coordenação esteja possibilitando o adequado fluxo de informações.

Conscientização
É preciso olhar sob o ponto de vista do paciente em fila de espera.
Imaginemo-nos em seu lugar. Tente sentir a angustia de um dia após o outro, aguardando o telefone tocar com a possibilidade de um doador. Conviva com a deficiência de um órgão frágil, do qual depende sua vida e por muitas vezes, morrer enquanto se espera. Adicione-se a isso o sofrimento familiar. Todos ficam "doentes" de uma certa maneira. Conseguiu?
Quem sabe, a partir dessa perspectiva, o número de rejeição familiar passe a diminuir.
Extraímos do site DOEAÇÂO o texto abaixo que exprime essa conscientização.

"Um dia, um doutor determinará que meu cérebro deixou de funcionar e que basicamente minha vida cessou. Quando isso acontecer, não tentem introduzir vida artificial por meio de uma máquina. Ao invés disso, dêem minha visão ao homem que nunca viu o sol nascer, o rosto de um bebê ou o amor nos olhos de uma mulher. Dêem meu coração a uma pessoa cujo coração só causou intermináveis dores. Dêem meus rins a uma pessoa que depende de uma máquina para existir, semana a semana. Peguem meu sangue, meus ossos, cada músculo e nervos de meu corpo e encontrem um meio de fazer uma criança aleijada andar. Peguem minhas células, se necessário, e usem de alguma maneira que um dia um garoto mudo seja capaz de gritar quando seu time marcar um gol, e uma menina surda possa ouvir a chuva batendo na sua janela. Queimem o que sobrou de mim e espalhem as cinzas para o vento ajudar as folhas nascerem. Se realmente quiserem enterrar alguma coisa, que sejam minhas falhas, minhas fraquezas e todos os preconceitos contra meus semelhantes. Dêem meus pecados ao diabo e minha alma a Deus. Se quiserem lembrar de mim, façam-no com um ato bondoso ou dirijam uma palavra delicada a alguém que precise de vocês. Se vocês fizerem tudo o que estou pedindo, viverei para sempre."

Fonte: Leitor de um jornal de grande circulação, comovido com a situação dos transplantes em nosso país com o objetivo de incentivar a cultura da doação.

Oração do Doador:

Ao Deus do meu coração e do meu entendimento, que me proporcionou um corpo saudável e um coração generoso. Fazei que, nenhuma vontade de parente ou amigo, suplante o meu desejo e determinação de ser um doador de órgãos e de tecidos. . Rogo, a todos que tiveram oportunidade e influenciaram em minha vida. Que após a minha morte, reservo-me o direito de, agradecendo ao Criador, devolver este corpo que serviu de vestimenta ao meu Ser, para que continue a servir ao meu Deus e a humanidade. Que assim seja! Doar não dói, doe...

Autoria do Sr. Aldorindo Braz Mayer morador de Indaiatuba


LEGISLAÇÃO
Lei 9434 de 04/02/97

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Vacas e ovelhas poluem mais do que os carros


Por BRUNO ABREU

Apesar do ar inofensivo, vacas, búfalos ou camelos são das maiores ameaças para o ambiente. A produção de carne e as emissões de gases destes animais contribuem em 18% para o aumento do aquecimento global. Mais do que o setor dos transportes (13,5%). A solução passa por mudar a alimentação do gado, mas também a nossa, reduzindo o consumo de carne. Está a pensar trocar o seu automóvel por um carro de bois para ajudar o ambiente? Esqueça. As vacas são as maiores responsáveis por emissões de gases poluentes para a atmosfera. Ao todo, o setor da criação de gado é o culpado por de 18% das emissões, bem mais do que o dos transportes, responsável por "apenas" 13,5% desta ameaça ao ambiente. A culpa é do sistema digestivo de ruminantes como as vaca, ovelhas, búfalos ou camelos, mas também de animais como o porco, que funciona como uma pequena fábrica de metano, um gás 20 vezes mais prejudicial para o ambiente do que o dióxido de carbono emitido pelos meios de transporte, que é enviado para a atmosfera pelo estrume e flatulência. Só estes animais produzem 9% das emissões enviadas para a atmosfera. Os outros 9% vêm dos processos necessários à produção - alterações dos terrenos para uso como pastagens, criação de gado, transporte dos animais e da carne para os talhos. Para combater o problema dos gases do gado, cientistas por todo o mundo tentam descobrir maneiras de "suavizar" a digestão destes animais. Desde Janeiro que as vacas de 15 quintas em Vermont, Estados Unidos, têm sido postas à prova com a introdução de uma nova dieta. Em vez das habituais refeições compostas de milho e soja, é-lhes dado alfafa, sementes de linhaça e trevos. Os dados recolhidos até ao mês passado mostram que os níveis de metano enviados para a atmosfera desceram 18%, enquanto a produção de leite se manteve. A nova dieta é de fato a responsável por esta descida das emissões poluentes: os alimentos dados às vacas são mais fáceis de mastigar e digerir, o que faz com que os animais engulam menos ar ao comer. Guy Chornier, produtor de iogurtes, notou que as vacas da propriedade estão "mais saudáveis", com o "couro mais brilhante e o hálito mais suave". "Suavizar" o hálito das vacas é algo urgente, dizem os cientistas climáticos. As vacas têm no estômago uma bactéria que faz com que arrotem metano, e alguns estudos indicam que cada animal expele uma média de 500 litros deste gás para a atmosfera por ano. Fazendo uma conta rápida: em Portugal existe um milhão e meio de cabeças de gado. Se cada vaca envia para a atmosfera 500 litros de metano, temos 750 milhões de litros deste gás na atmosfera todos os anos apenas devido ao gado bovino existente. Agora é fazer as contas a países como o Brasil (189 milhões de cabeças de gado), Índia (187 milhões) e China (110 milhões), isto referindo apenas os três países com mais gado bovino. Estes valores são apenas metade dos produzidos pela indústria da carne. Um relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) adiciona ainda os gases emitidos durante esta produção. Para ter uma ideia, para se conseguir um quilo de carne polui-se tanto como conduzir um automóvel durante 250 quilometros e produz energia suficiente para acender uma lâmpada de 100 watts durante 20 dias. Esperando-se que a produção de leite e carne duplique nos próximos 30 anos, as Nações Unidas consideram a criação de gado uma das mais sérias ameaças para o clima. Nos Estados Unidos, a ameaça foi levada muito a sério e já começou o programa "vaca do futuro", que procura reduzir um quarto do total das emissões da indústria da carne até ao fim da próxima década. Os cientistas estão tentando de tudo para resolver este problema: começando pela genética - investigando vacas que emitem naturalmente menos metano - até fazer alterações nas próprias bactérias produtoras do gás.